Em Abu Dhabi, Bolsonaro discute acordo sobre armas
Para presidente, cooperação entre os dois países está na
área de armamento
Maiá Menezes, enviada especial
Foto: Divugação/Governo dos Emirados Árabes Unidos
O presidente Jair Bolsonaro é recebido pelo xeque Khalifa
bin Tahnoun Al Nahyan em Abu Dhabi
ABU DHABI — Na primeira agenda no Oriente Médio após
aterrissar com sua comitiva oficial em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes,
o presidente Jair Bolsonaro participou de uma cerimônia em homenagem aos
mártires do país, em um monumento conhecido como “oásis da dignidade”, inaugurado
em 2007.
Bolsonaro foi saudado por uma cerimônia militar, e recebido
pelo xeque Khalifa bin Tahnoun Al Nahyan, diretor do gabinete de assuntos
relativos aos mártires, soldados ou civis que morreram pelo país. Na saída da
curta solenidade, falou sobre os dois acordos que deverá formalizar hoje com o
país, e pela primeira vez respondeu sobre as conversas bilaterais na área de
Defesa.
— Todos os países, onde quer que eu vá, essa posição sobre
Defesa é colocada na mesa. O Brasil foi esquecido nesta área por 30 anos, desde
o governo Fernando Henrique Cardoso a questão de defesa foi deixada em segundo
plano. Por quê? Porque nós, das Forças Armadas, fomos um grande obstáculo ao
socialismo, por isso buscavam quebrar nossa espinha dorsal, nos tornar inoperantes.
E o Brasil e seus militares sobreviveram graças à sua vontade de viver e a seu
patriotismo — disse o presidente.
Entenda: Em visita ao Oriente Médio, Bolsonaro quer atrair
investimentos de árabes
Na sequência, ele foi ainda mais incisivo, sem especificar
se o Brasil ia comprar ou vender armas:
— A cooperação que pode haver aqui é armamento, basicamente
isso daí. Meios de se defender. Ninguém quer um Brasil belicoso, mas temos que
ter o mínimo de capacidade de dissuasão.
Nos últimos dois anos, o Brasil registrou um aumento nos
gastos militares acima da média mundial, e saltou de 13º, em 2016, para 11º no
ranking dos países que mais investem no setor. Entre os países americanos, o
Brasil fica atrás apenas dos Estados Unidos. Os números são do Instituto
Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (Sipri).
Presidente passou por Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos,
como parte de seu pacote de visitas a países do Oriente Médio
Na última década, os gastos militares do Brasil cresceram
17%, no total. Em 2008, o ex-presidente Lula e Nikolas Sarkozy, então chefe de
Estado francês, assinaram um acordo para transferência de tecnologia em
produção de submarinos que, dez anos depois, resultou no lançamento de dois
submarinos produzidos no país: o Riachuelo, no ano passado; e Humaitá, lançado
este ano, já no governo Bolsonaro.
Em 2014, o governo brasileiro comprou 36 caças Gripen da
empresa sueca Saab para reequipar a frota da Aeronáutica. O contrato previa um
pagamento de cerca de US$ 4,05 bilhões, em valores atuais, para o
desenvolvimento e a produção das aeronaves.
Ainda na década de 1990, o governo destinou US$ 1,4 bilhão
no Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), o maior investimento individual
na área de Defesa. O sisema foi finalmente inaugurado em julho de 2002 pelo
então presidente Fernando Henrique Cardoso.
Em Abu Dhabi, Bolsonaro também afirmou que a América Latina
precisa estar estável. Disse esperar que o kirchnerismo — que tende a voltar à
Argentina com a possível eleição do peronista Alberto Fernández que tem a
ex-presidente Cristina Kirchner como candidata à vice na eleição deste domingo
— “esteja alinhado com a questão do Mercosul, com as questões democráticas do
Mercosul, que a Venezuela não vinha fazendo há muito tempo".
Viu isso? 'Nunca fui muito afeito à política', diz Bolsonaro
sobre possibilidade de deixar o PSL
— Estamos preocupados com a estabilidade democrática. Mas o
Brasil é muito importante na estabilidade da América do Sul — reafirmou.
Mais cedo, ele publicou no Twitter um vídeo do filho, o
deputado federal Eduardo Bolsonaro, reproduzindo uma declaração em que Nicolás
Maduro ironiza o "desenvolvimento do plano" do Foro de São Paulo>
No tuíte, o presidente comentou: “ATENÇÃO! O Foro de São Paulo segue com seu
plano de trazer instabilidade a toda América Latina.”
'Viés ideológico'
Bolsonaro, que vem de uma maratona pela Ásia, afirmou ainda
que quer ser player no mercado árabe, “longe de qualquer visão ideológica”.
— Nós visamos essas visitas sem o viés ideológico. Queremos
ampliar nosso mercado de trabalho. E a maneira como sou recebido e o cartão de
visitas tem demonstrando que as negociações estão caminhando. Até há pouco
vocês sabem que havia um viés muito ideológico nessa questão. Era um ambiente
de negócios terrivel, onde a corrupção falava muito alto. Começamos a reverter
tudo isso. Nós estamos nos aproximando cada vez mais de países que
economicamente são... o quê? Capitalistas.
Diante de uma comitiva que incluía o ministro-chefe da Casa
Civil, Onyx Lorenzoni, o ministro das Relações Exteriores, chanceler Ernesto
Araújo, e de parlamentares como Hélio Lopes, que costuma acompanhá-lo em
viagens longas como a que vem fazendo pela Ásia, o presidente afirmou que está
sendo “muito bem recebido”.
— Temos campos de negócios para eles no Brasil e para nós
aqui também. Essa é a intenção. Estamos sendo muito bem recebidos. Sinal que o
Brasil está reconquistando sua confiança. Temos muita commodity para vender,
mas o que esperamos é a questão da infraestrutura. Eles devem participar do
leilão do pré-sal também. Questão de pesquisa e desenvolvimento. A questão é
abrir as portas para bons empreendimentos — disse.
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